AULA 03 – Diferenças entre Umbanda, Candomblé e Kimbanda
Muitas dúvidas permeiam os pensamentos dos adeptos e simpatizantes das religiões de matrizes africanas.
A Umbanda veio da África?
Não é errado o sacrifício animal realizado no Candomblé?
A Kimbanda existe apenas para fazer o mal para os outros?
Essas são algumas das diversas dúvidas e, para algumas pessoas, até convicções, de que essas religiões têm doutrinas tão diferentes e avessas às normas sociais e morais de todo um coletivo.
Para esclarecermos essas dúvidas, abordaremos essas três práticas religiosas de forma superficial, porém, muito esclarecedora, começando pela nossa querida Umbanda.
Umbanda
A Umbanda é brasileira e, tanto quanto o indivíduo nativo do Brasil, as raízes dessa religião provém de três territórios e culturas diferentes: da África, da Europa e do próprio Brasil. A maior influência da Umbanda é, com certeza, africana, onde abraçou rituais e crenças do Candomblé, mas ela também recebeu influências europeias, tanto do Kardecismo francês quanto da romana igreja católica, e convergiu, ainda, com costumes e rituais xamânicos indígenas da terra brasileira.
A Umbanda tem por base a caridade, através da incorporação de espíritos de luz. Os espíritos incorporam nos médiuns para realizarem limpezas espirituais, passes energéticos, descarregos e consultas. São nossos amados Pretos-velhos, Caboclos, Erês (crianças), Baianos, Boiadeiros, Marinheiros, Malandros, Ciganos, Exús e Pombogiras.
Então o espírito possui o corpo do médium para trabalhar?
Não é bem assim. Na dinâmica da incorporação, o espírito se aproxima do campo vibratório do médium e estabelece laços energéticos com ele, podendo, assim, transferir pensamentos, movimentos e sons (incluindo a fala), próprios do arquétipo (trejeito) da linha à qual pertence, mas, para que isso ocorra, é preciso que o médium esteja disposto a ceder seu corpo e sua energia e, também, que esteja maduro, mediunicamente falando.
A Umbanda acredita em um único Deus, ao qual chamamos de Olorum ou Zambi, suas divindades, os Orixás, representando qualidades desse Deus único, poderoso e perfeito, e nossos guias espirituais, atuando no intermédio entre os planos físico e espiritual.
Não somos politeístas.
Candomblé
O Candomblé foi trazido da África para o Brasil no período da diáspora negra. Iniciando-se na Bahia no século XVII. Nesse período, a Igreja proibia qualquer tipo de expressividade e ritos africanos, julgando, juntamente com o governo, esse ato como profano e criminoso, por isso os escravizados cultuavam seus Orixás, inquices (cada uma das divindades nagô equivalentes aos Orixás) e vodus (divindades do panteão jeje equivalentes aos Orixás) passando-os por santos católicos, chegando, então, ao sincretismo religioso do Candomblé com o Catolicismo, que se perpetua até os dias de hoje.
Como alguns exemplos, temos:
Oxalá = Jesus Cristo;
Oxossi = São Sebastião;
Iansã = Santa Bárbara, dentre outros.
Os candomblecistas acreditam na existência de um Deus supremo, Olodumare, e em uma hierarquia de divindades intermediárias, os Orixás, que são cultuados em templos conhecidos como terreiros ou barracões. Também são cultuados os ancestrais e os eguns, espíritos dos mortos.
Os rituais do Candomblé contam com danças, cantigas, batidas de tambores e oferendas e, neles, os Orixás descem para dar seu “Axé” ao lugar e seus devotos.
Os participantes dos rituais vestem cores e guias de seus Orixás e, nas festividades, são feitos pedidos de revitalização de energias dos antepassados praticantes aos participantes atuais do Candomblé.
Diferentemente da Umbanda, no Candomblé, comumente, não há incorporação de espíritos.
Mas você não falou dos sacrifícios. O que você acha disso?
Em nossa casa e nossa tradição, aprendemos que nenhuma religião está errada, se promove o bem e que, mesmo o sacrifício animal do Candomblé, tem um fundamento em benefício coletivo ou individual, por isso não julgamos. Respeitamos e estudamos para que possamos quebrar nossos próprios preconceitos e auxiliar aos nossos irmãos no entendimento de uma cultura ancestral.
Mas vamos ao assunto que desperta tanta revolta nos ignorantes (aqueles desprovidos de conhecimento a cerca do assunto).
No Candomblé, o sacrifício animal é conhecido como “ebó” e é realizado como parte de diversos rituais, principalmente durante as iniciações e festas dos Orixás. Antes do sacrifício, é escolhido de acordo com a orientação dos oráculos e é preparado de forma ritualística, com rezas, cânticos e oferendas. O sacrifício é feito de forma rápido (evitando que o animal sinta dor) e respeitosa, com o sangue sendo oferecido ao Orixá e a carne sendo consumida posteriormente pela comunidade.
Kimbanda
A Kimbanda é um sistema religioso afro-brasileiro que tem suas raízes em Angola. É conhecida por suas práticas de feitiçaria e magia, muitas vezes envolvendo o uso de ervas, animais e outras substâncias em rituais. Os participantes da Kimbanda acreditam na existência de forças espirituais que podem ser manipuladas por meio de rituais e oferendas para obter proteção, cura e sucesso na vida terrena. Ao contrário da Umbanda e do Candomblé, a Kimbanda não possui uma estrutura religiosa formalizada e seus rituais são mais flexíveis e adaptáveis às necessidades individuais.
A Kimbanda também inclui o culto aos ancestrais e espíritos, mas difere do Candomblé e da Umbanda em sua abordagem mais direta e menos estruturada.
A Kimbanda trabalha mais diretamente com Exús e Pombogiras, de uma forma que não se trabalha na Umbanda. As entidades de Kimbanda, de acordo com a cosmologia (ramo da astronomia que estuda a estrutura e a evolução do universo em seu todo, preocupando-se tanto com a origem quanto com a evolução dele.) umbandista, manipulam forças negativas – o que não significa que sejam malignas.
Geralmente essas forças negativas estão presentes em lugares onde possa haver espíritos obsessores, também conhecidos como espíritos atrasados. A entrega de oferendas é comum na Kimbanda, assim como na Umbanda, mas variam de acordo com cada entidade, podendo ser desde bebidas alcóolicas e charutos até sacrifícios animais.
Sim, o sacrifício animal pode ocorrer na Kimbanda, principalmente em rituais mais tradicionais e ligados às práticas de feitiçaria. O animal é escolhido de acordo com a orientação espiritual e é sacrificado de forma ritualística, com rezas, cânticos e oferendas. O objetivo do sacrifício é agradar as entidades e obter sua proteção e auxílio nas questões terrenas.
Pois é, cada religião ou prática religiosa tem seus fundamentos, práticas e doutrina e cabe a cada um de nós entendermos e buscarmos conhecimentos para que possamos viver em harmonia e erradicar tanto preconceito que marginaliza e oprime essas religiões e seus adeptos.